Memórias fritas

se você costuma passar por aqui, já deve saber que eu sou clinicamente deprimida. ou seja, para viver uma vida ordinária sem maiores problemas, tenho que ingerir drogas antidepressivas, antipissicóticas ou anti-sei-lá-o-que diariamente pelo resto da minha vida. essas drogas às vezes funcionam e às vezes não. não costumo sair por aí gritando: "ai, eu sou deprimida, eu quero moreeeeeer", mas também não faço disso um segredo. escolho não comentar sobre isso porque muitas das pessoas que acabam sabendo dessa minha doença têm sempre uma teoria para acabar com minha depressão que, geralmente, consiste em lagar os remédios e/ou garrar na mão de deus.
se a depressão é uma doença estigmatizada (a prova disso é que ainda carrego algumas das suas estigmas no meu antebraço direito), sessões de eletrochoque são piores ainda.

bem, esta imagem não chega a ser uma descrição apurada das sessões que fiz na pax clinica de goiânia, mas, às vezes, é melhor deixar que a imaginação sobrepuje a realidade

sim, chocado leitor, eu fiz treze sessões de eletrochoque em 2006. ou foi em 2007? veja, este é um dos problemas da eletreconvulsoterapia: ela pode até melhorar sua depressão, mas pode acabar fritando sua memória. os choques não fritaram literalmente algumas de minhas lembranças, mas certamente queimaram muitos dos meus (poucos) neurônios. se melhorou minha depressão? me disseram que sim. eu não me lembro: ainda não me matei, não é verdade? e para eu ter levado uns choques, eu deveria estar merecendo, não é mesmo?

muitas coisas se queimaram: nomes, pessoas, lugares, situações, filmes que vi, livros que li, coisas que fiz. se queimou, inclusive, um sofá velho abandonado na rua, no qual um amigo e eu ateamos fogo. infelizmente, não me lembro disso. algumas coisas até merecem ser esquecidas, mas uma situação divertida igual a essa, seria bom de se lembrar.