31.12.10

Mudança de humor

dia desses, voltando do trabalho, desci do eixão na avenida anhangüera e rumei pela rua 7 ouvindo música pelo foninho direto do meu celular. a trilha sonora de volta para casa era a banda inglesa the cooper temple clause. a música tinha uma sonoridade depressiva e uma letra que combinava com o estilo e com meu humor. aquelas coisas: tédio, tristeza, solidão, vontade de morrer - o de praxe.

ouvir música pelo fone de ouvido é como se afastar um pouco da realidade. tudo que se passa na rua parece um clipe, uma encenação que ilustra a canção e a letra. 

"Please believe me when I say
This is how it has to end
This is easy on us all
Well easier than other ways
Sleep is all I ask of you
Sleep and not to wake again
See this throughh and leave, my friend
Tears will come and I will end"


estava neste refrão quando cruzei a paranaíba e me aproximei do mercado aberto. enquanto chorava por dentro, subitamente, senti um sentimento estranho tomar conta de mim, uma certa alegria, uma vontade de dançar. então, ao passar exatamente ao lado da caixa de som dos peruanos que vendem cds nas ruas, me vi cantando e quase rebolando:

"Para bailar la bamba
Para bailar la bamba
Se necesita una poca de gracia
Una poca de gracia para mi para ti y arriba y arriba
Y arriba y arriba por ti sere, por ti sere, por ti sere"

o som dos peruanos estava tão alto que o ritchie valens se sobrepôs aos meus foninhos, superou minha depressão e mudou meu humor para o extremo oposto. felizmente, eu estava de passagem, deixei o la bamba para trás e logo retornei aos meus pensamentos suicidas em paz.

"While I hope you all miss me
And weep at my grave
I imagine you'll pray some
And give hope to the grave
To the ones who have loved me
And cared for me so
And who die when I tell them
I just had to go"


13.12.10

Uns braços

muitas vezes sinto vontade de escrever por aqui, mas sempre tem umas mãos, uns braços que me seguram lá embaixo. é difícil me livrar deles. são tão confortáveis apesar de meio frios e descarnados. me acariciam e pedem para me acalmar, deixar como está. e assim eu fico: como estou. não me movo, deixo estar.

às vezes, me livro deles, mas logo volto. eles me deixam ir trabalhar no dm - o que é muito bom, mesmo sem receber todo mês. me sinto útil. então, de segunda a sábado, escorro para fora dos braços. muita vez, uma mão me segura. daí, solto dedo por dedo e saio de fininho para que eles não notem minha ausência. vou trabalhar e volto correndo pros meus braços confortáveis, azuis, fresquinhos. tem dia que não é domingo, mas os braços me seguram com tanto amor que eu tenho que ficar entre eles. em dia de semana! então não vou trabalhar. ligo e minto que estou doente, não posso ir. até finjo que é ressaca, para que ninguém no trabalho saiba sobre meus braços. amáveis, macios, eternamente serenos.

são os meus braços que me impedem de vir aqui escrever. matar o desejo de discorrer sobre tudo e sobre nada. detalhes que cativam meu olho e fazem ninho na minha mente. mas meus braços são tão... tão... ah! não sei mais o que são. as mãos estão aqui, de novo, desfazendo os ninhos da minha cabeça. me acariciando, me chamando. desculpa. é tão bom. essa mão no meu pescoço. fresquinha, fria. tenho que ir. o ninho se desfez. é hora de dormir.