25.9.07

Debulhar o milho


notou que eu posto por aqui coisas que tenho feito na facu? então vai mais uma crônica:


Moro em um apartamento alugado. Isso não quer dizer que eu não tenha casa própria. Tenho uma casa, mas não moro nela. Quero dizer, a casa não é propriamente minha. Ainda. Ela faz parte do inventário de meu pai que faleceu no ano passado e de quem sou herdeira. Temos também, minha mãe, minha irmã e eu, um lote que fez parte do inventário do meu avô, pai de meu pai, e que hoje faz parte do inventário do falecido marido de minha mãe, meu pai.

Neste lote, não há muro, pois usamos o dinheiro do muro para fazer o inventário do meu pai, não do meu avô, pai de meu pai. O pai da minha mãe, meu outro avô, já morreu também, teve seu inventário feito, mas não tem nada a ver com essa história. Pois é. Estávamos em nosso apartamento que é alugado, aqui em Goiânia, quando o telefone tocou e trouxe a notícia de que um sem-teto havia invadido nosso lote que fica em Bela Vista de Goiás. Minha mãe ficou irada no sentido denotativo da palavra. Ela é advogada e sabe o quanto é difícil despejar alguém que se aboletou em propriedade alheia. Alguns dias depois, um pouco mais calma, mas ainda bufando de raiva, minha mãe zarpou para Bela Vista e só freou o carro quando chegou ao lote em questão.

Munida de dois gajos co-sangüíneos, meus primos, minha mãe entrou no lote pronta para comer o fígado, metaforicamente falando, do facínora invasor de lote dos outros. Em sua mente, mamãe me contou mais tarde, pupulavam bandeiras vermelhas, foices e facões, em suma, uma horda de sem-terra que estariam menos preocupados com a posse da propriedade em si do que com ações políticas de esquerda.


Pobre progenitora minha! Ao ver as roupinhas do miserável e a pequenina plantação de milho quase pronta para colher, minha mãe debulhou-se em lágrimas. Mas não teve jeito. A parentaiada juntou as trouxas do pobre coitado, acabou com a pequena plantação e passou o problema adiante. Fazer o quê? Não é para resolver esses inconvenientes que pagamos um absurdo em impostos? Ouvi dizer que o cheque-moradia do governo do Estado de Goiás serve para isso. Ou estou enganada?

22.9.07


olha só o pepino que eu arrumei:


resolvi fazer um blog para falar dos problemas da minha faculdade, convidei outros alunos a escrever e ainda mandei um email para que os professores pudessem ler a bobagem que escrevi.

12.9.07

A passos de bêbado

mais um artigo que eu escrevi para a facu:

Recentemente, tanto a imprensa nacional quanto a local inseriram um novo termo em nosso vocabulário de botequim. Se, antes, o brasileiro comum saía para encher a cara, hoje, ele sai para beber em “binge”. Esta nova moda lexical começou depois que a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) divulgou os dados de uma pesquisa feita com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que relata como o brasileiro afoga suas mágoas.

O termo vem do inglês “binge drinking” que, traduzido literalmente, significa bebedeira de forra. Segundo o International Center for Alcohol Policies (ICAP), existem várias formas de se conceituar a expressão, sendo que a mais aceita diz que “um dos princípios mais comumente usados pontua que o ‘binge drinking’ refere-se a cinco ou mais doses para homens e quatro ou mais para mulheres consumidas em uma ocasião”. Pela primeira vez, um estudo nacional identifica e classifica esse tipo de consumo no país e promete elaboração de políticas públicas que combatam os problemas causados pelo mau uso do querido chopinho do fim de semana.

A pesquisa também apontou, nas palavras do relatório da Senad, que “o consumo de álcool é mais freqüentemente associado com problemas do que se poderia pensar numa análise superficial do fenômeno”. Em outras palavras, o que todo mundo já sabe: quanto mais cachaça na cabeça, maior o número de brigas no bar, acidentes nas ruas e pancadaria em casa. Isso sem mencionar a ressaca física e moral do pobre beberrão no dia seguinte.

Ao ler a descrição e a proporção dos problemas mais citados pelos, perdão pelo pleonasmo, bebedores problemáticos; pude ver como o álcool pode corroer de dentro para fora o ser humano e ainda contaminar gradativamente seus círculos sociais. Os problemas físicos aparecem como os mais citados, seguidos pelos problemas familiares. Dentre esses últimos, as discussões com companheiros irritados com a bebedeira foram mais freqüentes. Segundo a pesquisa, também é mais fácil um ébrio brigar com algum parente próximo do que com outro alguém fora da família.

O que parece não fazer parte do senso comum é a idéia que o núcleo familiar de uma pessoa com problemas com álcool é tão disfuncional quanto ela. O médico/apresentador global Dráuzio Varella escreve em seu site porque existem instituições que oferecem apoio aos familiares dos alcoólicos. Segundo ele, “a família se torna co-dependente do álcool e precisa tratar da neurose que adquiriu na convivência com a pessoa que bebe”. Essa afirmação é surpreendente inclusive para aqueles que procuram grupos de apoio aos familiares na esperança de convencer o ente a deixar de beber.

Na Federação Brasileira de Amor-Exigente (Febrae) e na Al-Anon, uma associação paralela e independente dos Alcoólicos Anônimos (AA), os co-dependentes aprendem que os familiares tornam o vício possível ao proteger os alcoólicos das conseqüências de seus atos. Essas ongs também mostram caminhos mais felizes para as pessoas que vivem ao lado de quem bebe independente do que acontece com elas Os familiares aprendem, nessas instituições, a eliminar a culpa que sentem em relação ao vício, mudar a relação com o bebedor problemático e, não raro, fazer com que o dependente aceite ajuda.

Fazer um levantamento sobre os padrões de consumo de álcool foi um primeiro passo para encarar as disfunções psico-sociais geradas pelo consumo abusivo do chopinho de fim de semana. Estabelecer um decreto que institui a Política Nacional sobre o Álcool – assinado pelo presidente Lula em maio deste ano - e criar um sistema público de medidas que reduzam o uso indevido de álcool é um segundo passo. O passo seguinte seria divulgar os efeitos negativos da co-dependência da família de quem bebe. Três passos do Estado em direção à solução do problema. Se seguirmos o modelo do AA, este é um bom começo de uma longa caminhada de 12 passos.

9.9.07

o professor pediu para eu escrever um artigo e eu fiz isso:


Mind the gap*

Recentemente, tive a oportunidade de passar duas semanas em Londres. Como uma turista típica, visitei os lugares mais freqüentados pelos não nativos e ainda pude observar um pouco da vida dos londrinos menos afortunados e dos imigrantes, pois me hospedei em um bairro relativamente pobre e distante da agitação artificial do centro. Hoje, quando me perguntam o que mais gostei naquela cidade, respondo sem hesitar que adorei o sistema de transporte coletivo de Londres.

Se me perdesse na cidade, bastava procurar um buraco do metrô para me enfiar nele e sair onde eu quisesse. Se os mapas afixados na entrada das estações não me informassem por onde ir, bastava procurar um funcionário, sempre solícito, para me orientar. É claro que falar um pouco de inglês também me ajudou nessas horas difíceis.

Locomover-me pela superfície não foi tão rápido quanto ir pelo subterrâneo, mas foi muito mais charmoso. Viajar no segundo andar dos famosos ônibus de dois pisos foi um clichê bastante prático. Além disso, nada de correria para descer no ponto desejado. Ao contrário dos ônibus de Goiânia, o motorista, tão mal humorado quanto os daqui, sempre espera o último passageiro descer para fechar a porta do “busu” em Londres.

Outro ponto positivo para a eficácia do transporte público é a obsessão dos londrinos pela ordem. Nenhum cidadão entra no vagão até que o último passageiro tenha descido. No metrô francês, a coisa não funciona tão bem assim. Depois que grande parte dos usuários desceram, uns outros começam a subir ainda dando passagem aos que ficaram para trás. Já no Terminal das Bandeiras do setor Novo Horizonte, saber um pouco de lutas marciais é útil para enfrentar a turba que entra alucinada no ônibus enquanto um pobre coitado retardatário tenta sair.

O “Underground” (metrô), o “Bus” (ônibus) e o “National Rail Services” (serviço nacional de trens) são motivos de orgulho para Londres. Isto fica bem claro ao freqüentar as lojas de lembrancinhas do Picadilly Circus. O símbolo do sistema de transporte – um círculo cortado por um retângulo – figura em camisetas, bolsas e broches com a inscrição “mind the gap”: a frase mais escutada pelos auto-falantes dos vagões do metrô. Isto, em bom português quer dizer “cuidado com o vão”.

Um sistema de transporte bem planejado, aliado a informações claras e a uma prática de conservação e uma política de ampliação constante me faz sentir saudades do ar abafado e sujo do “underground” londrino.

* Cuidado com o vão



o professor leu e disse que minha crônica ficou ótima.