1.3.06

Tudo que nasce morre.

por volta dos sete anos, começamos a entender o verdadeiro significado da palavra “morte”. antes disso, ouvimos dizer que, se arrancarmos aquela plantinha, ela morre; se pisarmos naquela formiginha, ela também morre, mas não somos capazes de entender o que isto realmente quer dizer. quando alguém muito próximo da criança morre, é preciso lançar mão de algumas analogias para fazê-la entender que a morte é definitiva. “o totó dormiu e nunca mais vai acordar”. “mamãe está viajando para um lugar muito bonito e não pode mais voltar para casa.”. depois dos sete anos, somos apresentados à senhora morte e evitamos, a todo custo, não pensar nela e, muito menos, cruzar com ela. entendemos que eventualmente iremos morrer, que papai e mamãe não ficarão do nosso lado para sempre, mas deixamos tais reflexões lúgubres para quando realmente precisarmos delas.

ninguém vive para sempre. acredito que criamos o mito da alma eterna, não porque temos medo de nossa própria morte, mas para evitar que quem amamos morra, mesmo que seja apenas na ilusão. muitas vezes, não nos importamos de nunca ver algum conhecido, mas ficamos sempre abalados ou mesmo tristes quando recebemos a notícia de sua morte. acho que não suportamos a idéia de que nunca mais veremos essa pessoa.

os vampiros vivem para sempre, mas esta vida lhes custa caro. porque não sofrem com a certeza da própria morte e de não amarem ninguém, precisam conviver quase diariamente com ela matando outras pessoas para sobreviver. contudo, apesar da dor que lhes é imposta, o vampiro assassino nos é extremamente sedutor. temos inveja desta imortalidade.

alf, o ETeimoso, ao receber a notícia de que um amigo em seu planeta natal havia morrido, preparou uma festa na qual comemoraria a sua morte abrindo latas de pêssegos em calda. me pareceu, quando vi este episódio, que a sociedade do extra-terrestre fosse muito mais evoluída em relação a idéia da morte e como lidar com ela. tive inveja deste personagem.

  • Alf, o ETeimoso
  • a morte é certa, mas sua hora é incerta.

    há alguns dias atrás, recebi a notícia que meu pai estava com um câncer no estômago. ele se submeteu a uma cirurgia que estava programada para retirar um pedaço do estômago, mas ele teve todo o órgão retirado para evitar a propagação do tumor.
    hoje, recebi a notícia de que houve metástase e que o tecido em volta do estômago também fora afetado. sei que meu pai não é eterno e que ele, provavelmente, morreria antes de mim, mas esta notícia mais recente me entristeceu muito.

    queria poder planejar uma grande festa com muita gente e muitas latas de pêssego, porém, infelizmente, não sou uma alienígena, sou apenas mais um ser humano. minha esperança é que a quimioterapia dê certo ou, na pior das hipóteses, que ele seja mordido por um vampiro e não morra em um curto espaço de tempo. pelo menos, não enquanto eu viver.

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