10.10.07

Desacato é crime; abuso de autoridade, também

Afinal, é desacato ou não imitar a sirene do carro da polícia? A grande dúvida gerou um debate acalorado entre os clientes de uma distribuidora de bebidas do Jardim América numa madrugada de setembro. De um lado, eu, sóbria. Do outro lado, três ébrios, um sóbrio e um metade louco, metade psicólogo. A discussão surgiu depois que, entre uma cerveja e outra água mineral, começamos a contar casos de conhecidos que se deram mal com a polícia quase sem esforço algum. A Ronda Ostensiva Tático Motorizada (Rotam) foi protagonista de todas as histórias.

O artigo 331 do Código Penal diz que “desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela” é um crime passível de prisão e multa. Já a Lei Federal Regulamentadora nº 4.898 de 9 de dezembro de 1965 versa que uma autoridade não pode extrapolar os limites de sua função pública sob pena de cair no crime de abuso de autoridade. O pessoal da Rotam parece que entende só essa primeira parte de nosso Lexus. Mas, como saber 50% em lugar que se sabe nada já é muito, estão todos aprovados.

Um dos casos que ilustraram nossa discussão na madrugada foi a história do primo do amigo do meu namorado que entrou na contramão a toda velocidade e deu de cara com uma Blazer cheia de policiais. Não deu para frear, bateu. Como bateu no carro da polícia, apanhou. Na porta da distribuidora, me disseram que este mereceu.

A outra história foi a do Besta*, um amigo meu que ganhou esse apelido por seus dotes intelectuais. Besta* parou a moto no sinal, ao lado de uma viatura. Não tinha nada mais inteligente para fazer, começou a acelerar a motoca para fazer graça às pedestres. Tomou um sopapo no capacete e teve que mostrar aos defensores da Lei até certificado de reservista. Na porta da distribuidora, me disseram que este também mereceu.

O protagonista da terceira história estava em sua bike com outro amigo na bike dele. Um carro da Rotam passou bem devagar, como costumam fazer, com as caras para fora da janela, encarando feio quem passasse perto. Não sei por que, cargas d’água, o bicicleteiro, em sua marotice, resolveu imitar a sirene com um grito curto e agudo. A viatura deu a volta, parou ao lado dos moleques e vomitou uns três cabra lá de dentro que desceram segurando o cinto com o revólver.

Os três guardinhas espremeram os dois rapazes até um deles confessar o crime. Um policiais agarrou o carinha pela gola da camiseta, prensou a cara do coitado no giroflex ligado e gritou perguntando se o pobre gostava do barulho da sirene. A pequena tortura durou alguns poucos minutos, mas serviu para deixar o garoto surdo por quase uma semana.

A discussão na porta da distribuidora se deu porque eu acreditava que o garoto havia cometido o crime de desacato. Fui quase massacrada por meus pares que pensaram que eu estava de acordo com a atitude dos policiais. Nem me deram a chance de dizer que o pessoal da Rotam cometeu o crime de abuso de autoridade. Mas, novamente, como saber 50% em lugar que se sabe nada já é muito, estão todos aprovados, inclusive os policiais.


P.S.: Só para constar, o jurista Nelson Húngria Hoffbauer, Ministro do Supremo Tribunal Federal no ano de 1951, declarou que "A ofensa constitutiva do desacato é qualquer palavra ou ato que redunde em vexame, humilhação, desprestígio ou irreverência ao funcionário. É a grosseira falta de acatamento, podendo consistir em palavras injuriosas, difamatórias ou caluniosas, vias de fato, agressão física, ameaças, gestos obscenos, gritos agudos etc". E tenho dito!

* Apelido fictício, porém com significado semelhante ao real

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu não acho que foi abuso de poder o 3º caso, porque o bicicleteiro não teve nenhum motivo pra imitar a sirene, a não ser chamar a atenção dos policiais e fazê-los perder segundos que podem ser preciosos a eles, olhando um bicicleteiro imitar a sirene, objeto de trabalho, que é utilizada de uma forma totalmente diferente da que o bicicleteiro utilizou

Anônimo disse...

bem merecido! quem procura acha!
tah vendo a viatura passando, e pede p apanhar!!! merecido...

Anônimo disse...

COISA DE BRASIL. A NOSSA POLÍCIA É DESPREPARADA. NAO ENTENDE QUE É PAGA PELO CONTRIBUINTE PARA PRESTAR SEGURANÇA PUBLICA AS PESSOAS QUE LHE PAGAM O SEU SALÁLIO. POR OUTRO LADO ESTÁ CLARO QUE ESSES ABUSOS ACONTECEM PORQUE EXISTE CONIVÊNCIA POR PARTE DOS SEUS CHEFES.

Anônimo disse...

NÃO E ATOA QUE MUITAS PESSOAS SE SENTEM INSEGUROS COM A PRESENÇA DA POLÍCIA, DEVIDO AOS ABUSOS COMETIDOS POR ELAS. ACREDITO QUE UM DOS MOTIVOS E O FATO DA POLICIA SE APROVEITAR DO ALTO ÍNDICE DE CRIMINALIDADE NO PAIS. A POLICIA TRATA MAL AS PESSOAS, E PREFEREM ESTABELECER O ENTENDIMENTO DE QUE TODAS AS PESSOAS SÃO DESONESTAS CRIMINOOSAS ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO. QUANDO DEVIA SER O CONTRARIO

Anônimo disse...

quando se fala que nós é que pagamos o salario dos policiais, devemos lembrar também que eles pagam seus proprios salarios, uma vez que também pagam impostos,então não sejamos tolos ao ponto de comentar tal idiotice.segundo, quem fica fazendo gracinha tomando o tempo da policia tem que tomar uma surra mesmo, cidadão de bem não passa por esses vexames...tem mais o que fazer.

Velécio Júnior disse...

Este último que comentou deve ser policial ou uma daquelas mulheres que "adoram homem fardado".
Não importa se paga o salário ou não, quem acha que alguém "tem que tomar uma surra mesmo", deve ser filho de algum policial que o educou assim.
Se os delinguentes no caso, representates da autoridade, achar que o garorto cometeu algum crime, deve levá-lo preso, nada mais.
No meio da policia boa, tem a turma despreparada(maioria)que prefere ficar gastando gasolina e enchendo o saco dos nossos filhos ao invés de correr atr´s de ladrão.
Covardes é o que são.
Velécio Júnior - Caratinga MG