19.3.09
Turno da noite (republicação)
- Chama o Vlad para limpar isso aqui, disse o sub-sub-gerente.
- Vladimir, precisam de você no salão, gritou o subalterno entortando a boca para o lado, quase cuspindo na cara do sub-sub-gerente.
Do fundo da cozinha, um homem alto se levantou de um banco baixo e se dirigiu ao balcão, empurrando um carrinho de limpeza.
- Alguém derramou refrigerante no chão. Limpe antes que escorreguem nele e processem a gente.
- Era diet ou normal?
Vlad tinha essa mania estranha de sempre querer saber que tipo de refrigerante as pessoas tomavam. Talvez achasse que pudesse classificar a humanidade em gente que bebe refrigerante normal e quem prefere tomar refrigerante dietético. Devia achar também que existia uma terceira categoria: a das pessoas que não bebem refrigerante, mas esta seria uma anomalia nos dias de hoje.
O faxineiro cruzou o salão semi-vazio até chegar à pequena poça de Coca Zero. Perto da porta, três pessoas comiam animadamente três MacLanches Felizes. Pareciam embriagados. Vlad pegou seu esfregão e, com seus olhos azuis extremamente claros, encarou por alguns segundos a pocinha de aspartame e ciclamato. Enquanto enxugava o chão, era observado pela mais jovem do MacTrio.
Vlad usava um uniforme da equipe de limpeza, porém algo nele fazia parecer que vestia um terno caro. Ele tinha que dobrar bastante a coluna para esfregar a Coca Zero, pois era alto como poucos o são. Os cabelos longos ficavam amarrados em um rabo frouxo na altura da nuca. Se gostasse de matemática, a garota diria que cerca de 30% dos cabelos daquele homem eram brancos e o resto de um preto sem igual, mas ela não era boa com números. Segundo sua carteira de trabalho, Vlad tinha quase a mesma idade do pai dela e, ainda assim, aquele era seu primeiro emprego registrado.
Com o chão seco, começou a empurrar seu carrinho de volta e, ao passar pela garota, lançou-lhe um olhar. Os olhos dele se cruzaram com os dela e uma espécie de arrepio incontrolável lhe percorreu todo o corpo, obrigando-a a se endireitar na cadeira. Ele não chegava a ser bonito, mas ela se sentiu bastante atraída por ele. A imagem de Vlad envolvendo-a com seus braços longos e bem-feitos, abraçando seu corpo magro, passou como um flash em sua mente e fez brotar nela um desejo latejante. Desconcertada, desviou o olhar e encarou o casal à sua frente, esperando uma reprovação pouco provável.
- São 4:00 horas. Vou trocar de roupa e ir embora.
O sub-sub-gerente, sem tirar os olhos do caixa que estava fechando, abanou a mão displicentemente num arremedo de aprovação.
Vlad colocou seus jeans velhos, o tênis meio sujo e vestiu a camiseta comprada na feira que acontece toda terça à noite perto da sua casa. Passou pelo sub-sub, se dirigiu até o estacionamento e se sentou perto do jardim para fumar um cigarro preto sabor canela. No caminho, sequer reparou no MacTrio que comia o resto das batatas. A garota mais nova sentiu a presença dele passando por suas costas.
Os três jovens terminaram o lanche, passaram pela porta do Mac Donald’s que foi trancada atrás deles e subiram a Avenida 85 com o som do carro num volume alto. Vlad, que estava escondido até então, voou atrás deles. O carro não ia tão rápido e Vlad podia segui-los em uma altura razoável. Logo após o cruzamento com a T-9, o carro virou à esquerda e parou em frente a uma casa próxima aos blocos do Marista. A garota desceu e mal teve tempo de fazer um tchau com a mão, pois o carro arrancou muito depressa.
- Devem estar loucos para ficarem sozinhos, pensou ela.
Olhou dentro da bolsa a procura das chaves e levou um susto ao dar de cara com Vlad que estava atrás dela. Sentiu o mesmo arrepio lhe percorrer toda espinha e ouriçar os pelinhos das bochechas. Vlad passou o braço esquerdo pela cintura dela e agarrou sua nuca com a grande mão direita. Com o coração batendo forte, a garota inclinou a cabeça para trás e se entregou num abraço sensual e apertado. Ele sentiu toda energia vital dela aquecer seu corpo frio. Inalou, em um só fôlego, todos os perfumes que emanavam dela, lambeu-lhe o pescoço para umidecer a pele e mordeu com fome.
Enquanto voava para casa, Vlad pensou como era bom ter um emprego não muito difícil, num horário aprazível e que ainda oferecia refeições gratuitas.
republiquei esse conto para que o pessoal da comunidade gothic goiânia possa ler.
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