“É engraçado... Para nós, estrangeiros, a lembrança é a imagem de uma gatinha. Para os brasileiros, pode ser uma pessoa ou uma coisa, mas, quando alguém nos diz ‘lembrança’, a imagem que vem a nossa cabeça é a imagem de uma gatinha.”
Meu pai me disse isso durante uma conversa poucos dias antes de morrer. Ele ainda estava consciente, mas a proximidade da morte já havia comprometido sua lucidez. Não entendi o que ele quis dizer naquele dia, ainda não entendo e acredito que nunca irei entender, mas, agora, encontro algum sentido em suas palavras para que eu possa sempre me lembrar dele com carinho.
É engraçado... Para mim, a lembrança é uma gatinha enquanto que, para outros, pode ser uma pessoa, uma coisa, um cheiro, um lugar. Quando alguém diz algo que me lembra meu pai, a lembrança chega a minha cabeça como uma gatinha se aproxima de mim.
Às vezes, quando ando distraída pela sala, ela me surpreende me atrapalhando a caminhada, ziguezagueando entre minhas pernas. À noite, me acorda ao pular em minha cama pedindo um canto de minhas cobertas. Algumas vezes, mia alto até conseguir minha total atenção, enquanto que, em outras ocasiões, ela me morde e machuca se lhe perturbo o sono.
Para mim, a lembrança de meu pai é uma gatinha. Uma companheira amorosa e discreta que vive em minha casa e se despede discretamente quando saio e me recebe feliz quando retorno.
JUBERALDO ALEXANDRE COELHO
*24 de julho de 1944
+24 de julho de 2006