mais um artigo que eu escrevi para a facu:
Recentemente, tanto a imprensa nacional quanto a local inseriram um novo termo em nosso vocabulário de botequim. Se, antes, o brasileiro comum saía para encher a cara, hoje, ele sai para beber em “binge”. Esta nova moda lexical começou depois que a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) divulgou os dados de uma pesquisa feita com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que relata como o brasileiro afoga suas mágoas.
O termo vem do inglês “binge drinking” que, traduzido literalmente, significa bebedeira de forra. Segundo o International Center for Alcohol Policies (ICAP), existem várias formas de se conceituar a expressão, sendo que a mais aceita diz que “um dos princípios mais comumente usados pontua que o ‘binge drinking’ refere-se a cinco ou mais doses para homens e quatro ou mais para mulheres consumidas em uma ocasião”. Pela primeira vez, um estudo nacional identifica e classifica esse tipo de consumo no país e promete elaboração de políticas públicas que combatam os problemas causados pelo mau uso do querido chopinho do fim de semana.
A pesquisa também apontou, nas palavras do relatório da Senad, que “o consumo de álcool é mais freqüentemente associado com problemas do que se poderia pensar numa análise superficial do fenômeno”. Em outras palavras, o que todo mundo já sabe: quanto mais cachaça na cabeça, maior o número de brigas no bar, acidentes nas ruas e pancadaria em casa. Isso sem mencionar a ressaca física e moral do pobre beberrão no dia seguinte.
Ao ler a descrição e a proporção dos problemas mais citados pelos, perdão pelo pleonasmo, bebedores problemáticos; pude ver como o álcool pode corroer de dentro para fora o ser humano e ainda contaminar gradativamente seus círculos sociais. Os problemas físicos aparecem como os mais citados, seguidos pelos problemas familiares. Dentre esses últimos, as discussões com companheiros irritados com a bebedeira foram mais freqüentes. Segundo a pesquisa, também é mais fácil um ébrio brigar com algum parente próximo do que com outro alguém fora da família.
O que parece não fazer parte do senso comum é a idéia que o núcleo familiar de uma pessoa com problemas com álcool é tão disfuncional quanto ela. O médico/apresentador global Dráuzio Varella escreve em seu site porque existem instituições que oferecem apoio aos familiares dos alcoólicos. Segundo ele, “a família se torna co-dependente do álcool e precisa tratar da neurose que adquiriu na convivência com a pessoa que bebe”. Essa afirmação é surpreendente inclusive para aqueles que procuram grupos de apoio aos familiares na esperança de convencer o ente a deixar de beber.
Na Federação Brasileira de Amor-Exigente (Febrae) e na Al-Anon, uma associação paralela e independente dos Alcoólicos Anônimos (AA), os co-dependentes aprendem que os familiares tornam o vício possível ao proteger os alcoólicos das conseqüências de seus atos. Essas ongs também mostram caminhos mais felizes para as pessoas que vivem ao lado de quem bebe independente do que acontece com elas Os familiares aprendem, nessas instituições, a eliminar a culpa que sentem em relação ao vício, mudar a relação com o bebedor problemático e, não raro, fazer com que o dependente aceite ajuda.
Fazer um levantamento sobre os padrões de consumo de álcool foi um primeiro passo para encarar as disfunções psico-sociais geradas pelo consumo abusivo do chopinho de fim de semana. Estabelecer um decreto que institui a Política Nacional sobre o Álcool – assinado pelo presidente Lula em maio deste ano - e criar um sistema público de medidas que reduzam o uso indevido de álcool é um segundo passo. O passo seguinte seria divulgar os efeitos negativos da co-dependência da família de quem bebe. Três passos do Estado em direção à solução do problema. Se seguirmos o modelo do AA, este é um bom começo de uma longa caminhada de 12 passos.